quarta-feira, 6 de agosto de 2008
CRONICA ESCOLHIDA
Lágrimas do Rio Grande – 08/04/08
Por Leonardo Adam Poth
Só o pala de um vivente desgarrado do pago abriga mais que uma saudade. Nostalgia? Que poderio tem sobre nossas vidas? É estilo, cruz ou carma? Condicionamento momentâneo... Não! Não posso crer nesta efemeridade. É tão servil curvar-se a individualidade saudosista do amor, destes que vem de dentro, destes que arrebatam a alma campeira, mesmo na capital.
Estou tão longe da querência, contudo, me sinto próximo a teus apegos, a teus mimos e encantos que jamais perecem, teus prados, teu céu, teu solo onde tudo cresce, já que um dia os anjos do céu sorriram e me disseram “alma de gaudério”... Como filho do teu santo solo, certo dia sorriu para mim e me disseste meu filho. Pai, aqui estou, retorno ao teu seio bendito e espero acalentar o suor de minha fronte e o pranto profundo de minha existência, oportunidade mundana e profana de reviver-te, reconhecer-te, sentir o minuano tão fresco e o orvalho fino de tuas noites que são lágrimas de meu pai...
Ó pai ouve minhas súplicas! Reúne ante ti tua ovelha frente tantas e circunda ao teu cajado. Filho legítimo de tua tradição, braços abertos sobre o dia mudo que silencia este presente de aurora. Tradição...palavra tão pia, maiúscula de gênero e grau, que alude o sangue herói de antepassados que dilaceraram esta nação grandiosa. Neste flete valente hasteei nossa bandeira, e com meu cusco amigo vou sentar-me na varanda e abrandar aquele que pulsa...
Terra de Bento Gonçalves que sonhara Garibaldi! Cada gota do teu mar é sinônimo de minhas lágrimas, que outrora deixei. Cada olhar de tua face espelha o dilema de minha vida, em cada dia, em cada segundo. Acudamos a tua glória! Sejamos fiéis a teu passado e traçamos reverências ao extremo do Brasil! Por que tanta devoção? Afirma-se e questiona-se o inexplicável... É nato do gaúcho. Somos berço e somos fruto e para a terra haveremos de regressar. Retroalimentamo-nos da essência do ser e do viver perene... e peregrino...
Só este coração dilacerado descreve por ti pelo que vive de tua memória. Certo dia me contaste, pai, de uma guerra. Marcada esta pela liberdade, igualdade e humanidade. Foi o vinte de setembro o precursor da liberdade! Sirvo à tuas façanhas de modelo ao penhor de minha própria pele! Marcada pelo esplendor de ser teu milésimo, milionésimo, tanto faz! Quero apenas sentir este devaneio, regar o cálice de tua mesa que transborda e sorver o néctar real desta verdade.
Neste mesmo dia coroaste meu destino. O exilar. Não no sentido de expatriar, mas no desafiar. Tupiniquim de existência ou europeu de longa data, somos unos enfim! Por fim, se existem lágrimas são incertas, pois o atlântico reúne todas em delicadas expressões de luxúria, de desvario insano, de tantas razões infundadas de teus dilacerados...
Voa Rio Grande, voa alto, pois meus braços precisam tocar-te, quero deleitar-me em teus afagos e ouvir novamente tua voz a cantar cantigas de ninar, a me conduzir como menino na doçura de tuas terras. Quero inspirar tuas flores, degustar de tuas parreiras, lavar teus pés... São raízes axiomáticas que retomam este pavilhão transversal a qual me curvo.
São lágrimas do Rio Grande, todo tempo, cada espaço, cada canto que recorde este nascer! Sou pequeno pai e não sei viver... Recorro a estas fotos tão antigas e presencio o que foi ontem no cair do dia. Não consigo levantar-me, dá-me a mão! Dar-te-ia a alma pois a ti pertence mesmo! A cada despedida deixo um pedaço de mim... Porque isso tem que se repetir? Porque tamanhos fundamentos sem sentido? .
É mais um filho que se perde, é mais uma alma que se vai sem ao menos sentir tuas mãos... Faça um gesto, um suspiro, basta isto! Retomar esta rotina é tão árduo e pesaroso, todavia em ti, premio e cintilo meu peito de medalhas, pois és meu pai! Este filho não é pródigo, traz os louros da vanguarda! Sonhadores, bravos guerreiros, somos guardiões rumo ao norte! Todo ouro, todo incenso, todo afã são para ti! Quanta loucura somos capazes de provocar e suportar... quantos extremos algozes cairão sobre nós? É este verdugo que aponto – sou eu! Mas que blefe! Maldito! Não... contra aqueles que se oporem a ti!
Quem será capaz de cravar o punhal em tanta glória? Sentimento de perfídia afaste-se de mim! Felonia tardia que jamais merece clemência! Castiga essa malta sobre o denso frio de tua campanha! Súcia de imperialistas! Acalma... Abranda teu coração...
O gorjeio do quero-quero fala mais que parcas linhas! Que São Pedro regozije com tamanha devoção! E abençoe toda virtude deste povo que não é escravo!
É este ambiente de astúcia intelectual que me pertence. Foi esta a criação motivadora que me destes. Foi este despertar da tênue massa que presenteastes ontem e hoje. E é ela que agradeço, que me calo e que respiro... Até o último suspirar dessas entranhas... Não vá sem mim pai... Estou aqui... segue teu rumo... E escuta meu ressonar.
_______________________________________________________________L.A.P.__
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
NOVOS POEMAS
Se o prazer do dulce olhar
Deus não mais despertar
E em mim palpitar
Com o olhar do Rio Grande
Sempre tão radiante
Deveras cativante
Maltratar...
Então que a morte
Com sua impiedade
Chegue para mim
Ela tão fatídica
No afã da sanidade
De todo esse ínterim
Carregará uma saudade...
Se os olhos do Rio Grande
Já não são mais rútilos
Ao meu olhar frio
Não deve tardar a morte
A vigiar meus pulsos
Cadavérico e doentio
Entre esquifes obscuros
Féretros e sombras que uivam
Almas que assim divagam
Neste mar sem sentido
De ilusões sustenido
Que me querem a morte!
Do amor corrompido
Que massacra ferido...
Que as bases da morte
Sejam pias e serenas
Para suportar as perdas
Que uma lágrima sequiosa
Severa desdenhou
Que visão maravilhosa
O vento me levou!
Que perdão contrastante
Terei a ele pedir
Quando da pele expelir
De minha face o calor
Sente ainda o rubor
Que vai desfalecendo
E a morte vem sem medo
Que pra nós representa
Para nós afinal a morte?
Ciclo que se finda
O fim de todos os sonhos
Ou despertar da verdade
Realidade profunda
Inóspita como Gileade
Nem tudo é efêmero
O Rio Grande é perene
E copiosa é sua grandeza
A morte não vencerá
Tampouco regerá a riqueza
Das terras que quiçá
O meu leito abraçará
Se por mais um instante
O meu ser ainda vibrante
Rebentar o pranto solo
Desta marcha salutar
Vai a morte ainda distante
Atentar outro vivente
Noutros campos vou lutar
Todavia cai a aurora
Eldorado tão longínquo
E repito aos quatro ventos
Desafeto em dois tempos
Dos delírios do senhor
Que ainda é o torpor
Dos meus tempos de guri
No apagar dessa esperança
As luzes se extinguirão
Que a morte seja breve
Àqueles onde a temperança
Prevalece como a ganância
Que o passado teu condena
E o futuro alargarão
Se a morte veste negro
Em alvo marfim quero estar
Para rever o sorriso mais lindo
Que o Rio Grande vem sorrindo
Desde os tempos de acolá
Se o mirar de minha fronte
Não penetra a tenra fonte
A morte é riso faceiro
Que me leva entardecer
Nas escuras alamedas do viver
Portanto sede franca
Se me queres diga logo
Pois a ti renderei graças
Se o meu destino for
Caso lá no sul esteja
Meu descanso, vou ficar...
O Palhaço (07-09-08)
As pedras são flores com perfume real
No circo da vida galgamos promessas
Que nos fazem sentir o amor sem igual
E percorrem o vermelho das premissas
Pintamos o rosto e representamos sempre
Amizades, calores, fulgores sem limites
Mas o vazio d´alma se cala tão temente
Me ensine a viver sem uma palavra que dizes
Temos sempre demonstrar plena felicidade
Trilhando caminhos diferentes aos nossos
Vasos caiados de dor e alguma ludicidade
Travessos, mundanos, enfim, sois vossos
Como aquece tua mão em minha face
Que em lágrimas está e borram assim
A maquiagem das vontades versasse
Os gritos de festa que dispara o arlequim
Ah se essas recordações nunca cessassem
Ao sair das ruas um outro amor surgisse
E os velhos palpitantes então parassem
É porque nunca fui teu e esse amor partisse
Não! O picadeiro é palco dessa comoção
Ela é viva, constante, jamais morrerá
Quero crer na recíproca de fogo e paixão
Travestido de palhaço regozijará
E assim seguimos o destino impiedoso
Que na ilusão enxerga flores não espinhos
Sente apenas o perfume e remete ao gozo
Rio Grande soberano, convergente aos caminhos
Eu que te quero tanto, eternamente feliz
Se assim sabemos o que seja afinal
E que jures fidelidade ao eterno aprendiz
De braços abertos ao inferno abismal
Me acostumaste a sorrir e só vejo saudade
No coração do palhaço outras lágrimas fraternais
São lágrimas do Rio Grande que escrevo é verdade
Mas brotam no rosto meu um dia mais...
Epitáfio
Ao grande mestre com carinho
Diriam seus admiradores queridos
Professor, doutor, tão amigo
Aos céus do senhor tão bem vindo!
Recebes então as graças do celestial
Que redime as desgraças imundas do ser
Desta vida ímpia e paradoxal
Que maltrata e expurga as bases do viver
É tão bom sonhar e idealizar
Educar como portal de transformar
Dirime as mazelas desse pesar
E altiva-se imaculado a este altar
És vibrante, és sensato, és animador
Escandalizamos tamanho torpor
Obscuros valores sobrepor
E tamanha insanidade propor
Foi poeta, foi guerreiro e suas sementes deixou
São puras lágrimas que defenestramos d’álma
Fino traço floral pelo caminho largou
Razões e emoções significantes dessa fleuma
Levanta-te, corra firme até nós!
Transborda de culpa o algoz
Rajadas de frio, calafrio incandescente
Da amarga lembrança remanescente
Fez da vida um ideal e assim lembraremos
Surtos delirantes, tempestivas fraternais
É consolo à terra morna que te abriga
De luto no peito mesmo assim urraremos
Paz e acalento eterno para nossos vidigais
Mais injusto do que dantes, extermina...
Ah, se um dia a mais ainda tivesses
Agradeceria humilde a oportunidade
Em vida, ímpar e fiel que destes,
Pela educação, tua sã realidade
Hoje e sempre aplaudiremos com nostalgia
Teu sumo sorriso faceiro que contagia
Que ainda reflete em memória tua alegria
Medíocres e ingratos desta vida tardia
Leonardo Adam Poth, 06-08-08
Homenagem sincera ao Prof. Dr. Raul Domingos V. Monteiro (in memorian)
A bênção (17-07-
Deus abençoe o povo paraguaio e toda sua nação!
Que esta ímpar oportunidade deste a nós
Tanto sofrimento e desigualdade, revertes a devoção
Deste abençoado solo que premia a vós
Sois latinos, estrela da américa do sul
Devastados pela guerra, injustiças te abalaram
Salvos e despertos de teus próprios guerreiros
Hoje estamos aqui e todos te saudaram
Pelos chacos desse cantinho de cone sul
A um único beijo despertaste fidedigna
Assim como nós com saudades da terra
Mas teu abrigo é tão puro que nos sonhos serenos
Imaginamos raízes de primeira contenda
Viva Asunción... falamos e cantamos
E a graça de vermos tua vida mais digna
Ao toque final iremos crer e dar valor
Ao presente que tamanha incoerência produziu
Das virgens que professam vidas, sem sabor
E marechal algum fidalguias acudiu
Cultura Asuncena que jamais morrerá
Valsamos em guarani suas canções
Afaga teu hermano e assim recordará
Força a um povo de gente brava e merecedora
Quero sempre exaltar saudades do Paraguay
“Concepción, Lambare y Fernando de
Mira Luque! Que encanto e sedução estarrecedora
Que abraço, que calor nos destes aqui!
Despertai de todos os perigos, Assunção
Recordamos deslumbrados Ypacaraí
Que ainda dantes conquistou por emoção...
Em Asunción, por Asunción...
Leonardo A. Poth