DAVI ADAM POTH SILVA
Garça Branca de Castro
Eu sou a garça branca que vive só
A beira do rio contemplando a fuga
Da escuridão profunda, o pó
Que redunda ao caminho da gruta
Sou assim aquele pássaro perdigueiro
Que em riso manhoso desdenha
Os passos trigueiros do homem faceiro
Que cintila os olhos a mirar a fogueira
Aquele colibri triste das águas
Que não entende o choro das mulatas
Batendo a roupa suada e anáguas
De suas sinhás que impunham chibatas
E as lindas donzelas em vestido de festa
Valsando no salão, urrando as entranhas
Soando barbáries a noite da orquestra
Que em sã consciência são todas estranhas...
Que foram elas naquelas mãos veementes?
De crias diversas, bonecas e varões
Fruto do pé de fruto rubro e pais ausentes
E do jugo monarca, centelhas de grilhões
Foi a febre terçã o estopim funesto
Que viu da morte ressurgir a liberdade
Da mão negra que encilha o cabresto
E sombras alvas que não inspiram saudade...
Suspira o baronato em finas sedas e delicados cristais
Geme a negrada de alma levada no seu crepitar
E os brancos malacafentos imperam os avais
Dos pardais que piam pequeno e temem chorar
O agouro dos pobres é o delírio do café
É o semblante doloroso de mães desesperadas
Que voam de encontro ao ventre de sapé
E adentra o sabiá nas salas abarrotadas
De gente farta que espera a morte chegar
Lentamente, mesmo ao som das polcas tristes
Que vagam no horizonte de súplica salutar
E invocam multidões que em tempo esquecestes
E que partiu em vão na marcha da noite
Presa ao chão, a ferros e açoite
Mesmo assim eu sou a garça branca
Que plana, às benesses de meu Deus, insana
Neste caminho funesto e ateu
Onde só o andarilho ignorante contempla
Pois aquela ave ao longe sou eu.
LAP, iniciada em abril, concluída em 26-05-10.
DAVI ADAM POTH SILVA, BEM VINDO...BIENVENIDO
quarta-feira, 26 de maio de 2010
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